Ensaio sobre a juventude


Sorte a minha ter ingressado em uma das instituições mais tradicionais de Nova Friburgo. Em 2017, a Academia Friburguense de Letras completa 70 anos de fomento à Literatura, promovendo e difundindo a arte e cultura nestas terras altas.

Tomemos aqui o conceito etimológico do termo "tradicional". Tradição vem do latim traditio, tradere, que significa "entregar", "passar adiante", ou seja, aquilo que é transmitido de geração em geração. Na academia, as idades variam na faixa dos 30 aos 80 anos, assim, são diversas gerações que convivem harmoniosamente, trocando experiências de vida e literárias, e o enriquecimento e amadurecimento pessoal é preciosíssimo.

Em uma iniciativa de vanguarda, a Casa de Salusse alterou seu estatuto e criou o Anexo Jovem, um espaço com, 15 cadeiras que homenageia nas patronímicas antigos membros do sodalício, destinado a jovens entre 16 e 29 anos. Em consequência da abertura de vagas, houve a posse coletiva das cinco primeiras cadeiras pelos escritores Brenno Castro, Thales Amaral, Ania Gevezier, Isabelle Sarruf e Rachel Ventura.

Foi uma iniciativa magnífica da AFL e dá orgulho saber que fiz parte disso. E esse orgulho precisa transbordar nas palavras de um ensaio. Quantas trocas de experiências serão possíveis? Quanto poderemos legar, quanto poderemos aprender!

Assim, como é de praxe na instituição, cada novo acadêmico é saudado por outro mais antigo durante a cerimônia, e eu fui o padrinho do jovem Thales, de apenas 20 anos e que publicou seu primeiro livro aos 16. Também eu, aos 16, rascunhava histórias em cadernos, mas desisti da literatura por haver considerado que sua produção estava atribuída aos intelectuais de renome, muito distantes da minha realidade de aluno de escola pública. Só retomei o antigo sonho aos 25, quando mudei a forma de pensamento e a postura diante do tema. Ingressei na academia aos 34; eles, entre 17 e vinte poucos anos (como o Fábio Jr.). Será que em minha adolescência eu teria desistido se tivesse tido o apoio que precisava? Possivelmente não, assim como eles não desistirão, e podem ir muito mais além.

Que mais iniciativas como esta surjam em outras academias, em outras instituições dedicadas a arte e cultura. Que cada vez mais jovens se interessem não apenas pela leitura, mas pela produção literária e que isso possa estimular o pensamento crítico e alimentar sonhos. Porque todos temos sonhos. Porque todos somos jovens e, seja aos 17 ou 80 anos, temos muito o que aprender e ensinar nessa vida; mais a aprender do que ensinar, inclusive. Aliás, na vida, tudo tem seu preço, seu valor. E só queremos dessa vida é ser feliz.

George dos Santos Pacheco
georgespacheco@outlook.com

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